Ai que prazer
Não cumprir um
dever,
Ter um livro para
ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou
mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente
matinal,
Como o tempo não tem
pressa...
Livros são papéis
pintados com tinta.
Estudar é uma coisa
em que está indistinta
A distinção entre
nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor,
quanto há bruma,
Esperar por
D.Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a
bondade e as danças...
Mas o melhor do
mundo são as crianças,
Flores, música, o
luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de
criar, seca.
Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada
de finanças
Nem consta que
tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa, in
"Cancioneiro"
Fotos: Casa Fernando Pessoa - Lisboa
Luiz Henrique Dias
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