Oásis de Bethânia

Partilhar

50 discos são para poucos...

Parabéns Bethânia !

A foto de Gringo Cardia na capa do 50º CD de Maria Bethânia, que chega às lojas na próxima sexta-feira (30), mostra o sertão de Alagoas, numa paisagem silenciosa. Trata-se do "Oásis de Bethânia", título do disco, e o retrato do lugar que a cantora imagina para se manter centrada, com os pés no chão.

"Sertão é onde não tem nada. Não tem água. Falta tudo. É um limite que Deus coloca. Para mim, é como se fosse uma fonte, uma nascente pura. Tenho sempre que lembrar que existe esse lugar no meu país. Me bota do tamanho que eu sou. É a vida seca. É o filho de Deus, criado sem apoio, sem ajuda, sem nada. Retrata muito a coisa árida do mundo, e ao mesmo tempo o amor que o sertanejo tem por sua terra", explicou a cantora nesta quarta-feira (28), na entrevista coletiva para o lançamento do novo trabalho, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro.

Em cada uma das 10 faixas (metade delas inéditas), Bethânia convidou um artista para fazer arranjo original, sobre música autoral ou não. Djavan assina sua própria e inédita "Vive", na qual ainda toca violão. Lenine cria sobre "Velho Francisco", de Chico Buarque ("Precisava de mais pegada, o Chico é suave e o Lenine dá uma pancada", explicou). Hamilton de Holanda, Jorge Helder, Jaime Além, Maurício Carrilho, Marcelo Costa e André Mehmari também assinam canções intepretadas pela Abelha Rainha da MPB.

"Como o Brasil tem apresentado uma geração de extraordinários músicos, queria estar perto deles de algum modo. Como sou muito intérprete, mais do que cantora, era um sonho que não sabia se poderia realizar. Tive a alegria de eles se interessarem. E vieram lindos, amorosos. O resultado saiu como eu queria."

Um compositor em especial ficou de fora: o irmão Caetano Veloso. "Na primeira lista ele estava, com uma canção estranhíssima, que fez em 1967 para mim. Ele musicou um poema de Sá de Miranda. Mas quando eu terminei, vi que estava sobrando. É mais uma coisa que eu posso guardar para a cena. O espetáculo que pretendo para o disco tem que ser diferente."

Bethânia concordou em fazer da internet o principal meio de divulgação do CD. Ignorante confessa do meio, no entanto, deixou a cargo da gravadora as questões virtuais. "Agora tudo é internet. Vocês estarem aqui hoje eu sei que é uma coisa antiquíssima, do século 18. A gravadora procurou ver a melhor maneira e me falou que seria pela internet, como todos hoje, Chico (Buarque) e Marisa (Monte). Acho maravilhoso, legal que façam. Eu só sei fazer o que sempre fiz, sentar e falar sobre o meu trabalho. Sei que tem um monte de coisa aí e se é útil para a música, para o trabalho, é interessantíssimo, mas confesso total ignorância", disse, provocando risos.

O "monte de coisa" a que se refere inclui a pré-venda no iTunes Brasil - em uma semana o disco conquistou o quinto lugar entre os mais vendidos, ao lado de "21" de Adele, "The Wall" do Pink Floyd e "Nothing but the beat" de David Guetta -; um aplicativo, disponível a partir desta quarta (28) nos gadgets da Apple (iPhone, iPod e iPad), com fotos, discografia e informações sobre o novo disco; e a Rádio Maria Bethânia, com todas as músicas dela no site da Biscoito Fino e com links para o iTunes e redes sociais da gravadora.

Com 50 discos no currículo ("Soube ontem [terça-feira] que eram 50", confessou), a baiana ainda se emociona ao ver o trabalho concluído. "Sempre me comove. Sinto uma coisa forte porque, como artista, sou muito verdadeira, lido com coisas muito finas. Poesia, música, corda vocal, que é mais tênue que um fio de cabelo. O mundo tá grosseiro, sem classe, sem delicadeza, sem querer prestar atenção aos detalhes. Quando vejo o trabalho pronto, é sinal de que eu andei assim mesmo. É o que me conforta e me faz vaidosa. Quando penso que talvez eu fragilize e depois vejo que fiz, é um prazer."

Primeira brasileira a atingir a marca de 1 milhão de discos vendidos, com "Álibi", em 1978, Bethânia finalmente expõe no disco outra paixão sua, a poesia. Na faixa "Carta de amor", recita, entre a letra e melodia de Paulo César Pinheiro, um texto autoral. Um dos poucos, aliás, que não foram queimados. Ela explica: "Escrevo e queimo. Acho purificador. Aquilo existe em um momento e deve desaparecer. Não pretendo ser escritora".


"Oásis de Bethânia" (Biscoito Fino)

1 – Lágrima (Candido das Neves)

2 – O Velho Francisco (Chico Buarque)

3 - Vive (Djavan) - Inédita

4 - Casablanca (Roque Ferreira) Inédita

5 - Calmaria (Jota Velloso) - Inédita

*Citação: Não Sei Quantas Almas Tenho (Bernardo Soares) Edição Fauzi Arap

6 - Fado (Roque Ferreira) - Inédita

7 - Barulho (Roque Ferreira)

8 – Calúnia (Marino Pinto / Paulo Soledane)

* Citação: Lágrima (Sebastião Nunes / Garcia Jr. / Jackson do Pandeiro)

9 - Carta de amor (música e letra: Paulo Cesar Pinheiro) - Inédita

* Texto: Maria Bethânia

10 – Salmo (Rafael Rabelo e Paulo Cesar Pinheiro)

FONTE: José Raphael Berrêdo Do G1 RJ

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...